domingo, fevereiro 08, 2009

O Odiado

Sobra-me um talento: o de ser odiado.

Há muitos que simplesmente passam por cima de mim com suas avaliações apressadas, há muitos que não entendem minhas camadas, e muito em mim no respeito a essas pessoas.

Talvez o certo fosse aceitar o conceito de selva, e entender o outro como um desafio perigoso ao invés de uma construção convidativa, mas nem sei onde encaixar essa sabedoria no meio de tantas idealizações, não sei mesmo.

Minha fadiga já está ao máximo, olho para os outros sem querer conhecer suas camadas, fica-me mais fácil impor a minha superficialidade, não dá para ver apenas as poucas virtudes dentro dos invejosos, dos amedrontados, dos contrariados e rejeitados, não dá.

Eu estou cansado de ter "amigos" que me insultam por eu ser não facilmente compreensível, no mistério que a ignorância encontra há a escuridão que lhes ameaça, e então ficam revoltados comigo, chamam-me de falso e cruel, infelizmente para chegar à coerência que tanto exijo em mim, essas pessoas precisariam despir suas armaduras, precisariam comungar comigo da humilhante condição de quem se obriga enfrentar a verdade, já isso é um desafio terrível aos olhos deles.

A verdade não é o que eu digo, ou mesmo o que está em um livro, a verdade é uma razão circunstancial, algo que só pode ser entendido numa aferição lógica de tudo, antes disso já terei fatigado o meu oponente, antes disso já vou tê-lo irritado com a profundidade dos meus desafios em entender, e antes disso eu já me alarmo com todo o desespero, e então a partir de agora, tudo antes disso será nada, eu serei como na selva, já que só me resta ser leve como um pássaro, então eu serei amigo do céu, leve e veloz bem longe da lama dos crocodilos e rinocerontes.