terça-feira, abril 29, 2008

Um contrato invisível.

Podemos ficar tranquilos, muito mais que imaginamos, afinal as palavras são doses amistosas de verdades, mas também pequenos cálices de veneno, se eu sentasse com um grande amigo e desse a ele meu entender sobre tudo isso, eu falaria devagar os sentimento sobre o que vejo, e sobre o que há de mim daquilo visto, sim, falaria aos pormenores sem plurificá-los, porque as palavras precisam ser bem servidas mas sem dar fartura à gula.

Aprendi muito tarde sobre o dom de manejar os significados, demorei muito a perceber o poder dos adjetivos e a qualidade de um homem que conhece intimamente os substantivos que possui, eu sou hoje uma pessoa assustada com o valor da linguagem, tão imensamente assustado que meus arrependimentos nascem todos daí, de não ter conhecido esse talento e perigo presente em cada sílaba, em cada conversa trocada.

Aprendi muito tarde sobre o peso de um significado, que para mim poderia ser leve ou pesado que ao outro teria até mesmo o completo oposto, aprendi essa coisa ridícula e óbvia muito tarde, mas ainda há tempo para uma reviravolta.

Prometi a mim e a quem sofresse ao me escutar toda palavra de gênio ou de santo, mas essencialmente um dizer ouvinte, assim, um tom de silêncio, um sorriso continuado, palavras que não são minhas, até aquelas que estão ali nos olhos do interlocutor, quero ser aristotélico, socrático, platônico, menino e passarinho, quero fazer poesia não, mas deixa-la fazer a situação, a tolerância e a gentileza rimam versos entre o suspiro e o coração.

Assim farei, darei tempo entre as goladas, deixar o cálice de sensações ser tragado por inteiro, tanto para matar antigas idéias como para comemorar novas idades, sejam mais anos em quem já os tem, ou os primeiros no quê acabou de chegar.

Estou muito honesto, muito sincero comigo, isso desconstrói meus idealismos, o castelinho de cartas cai inteiro sobre a mesa, já espalhado para uma partida cheia de pequenas apostas caprichosas, cada cartada será uma frase bem silenciada ou devidamente servida.

Já arranjei jogadores e cartas perdidas, já arranjei a idéia de brigar com todos os adjetivos, ou então dividí-los em duas classes, os que dão forma, e aqueles que falam como as coisas são, quero essa grande diferença para mim como um trato com Deus, divido o entendimento do adjetivos em duas raças, em duas vertentes de entendimento, o caminho perigoso e sombrio vai pelas palavrinhas taxativas e cheias de verdades aparentes, os adjetivos morais são agora meus inimigos.

Do outro lado disso vão os designativos, os que chamarei de adjetivos desenhistas, eles são ótimos para darem forma ao que existe, enquanto espera-se que cada coisa existente venha e ganhe por si só e do presunçoso mais próximo os adjetivos morais, dizendo o valor, a utilidade subjetiva e o quanto ameaçador pode ser.




Na madrugada revelada aos meus olhos, tenho o café cheiroso como cúmplice desse crime, matei o mistério de mais um dia, o silêncio ficou estuprado no passado dessas pequenas horas, eu não me vejo sem adjetivos morais, eu sou humano e inimigo meu, isso!

a priore, inimigo meu.

;)


"Eu nunca fiz coisa tão certa,
Entrei pra escola do perdão" - Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

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1 Comentários:

Blogger Cecília Braga disse...

Gú,
Tuas palavras e uma ponte para Nietzsche andar convicto por meus pensamentos...Assim: humano demasiado humando, 'não quero ser feliz, quero ser verdadeiro'.
Minha alma sempre sempre em reverência. E se te olho nos olhos é sempre com respeito e amor. Tu bem sabes.
beijo na alma

7:37 PM  

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