quarta-feira, maio 21, 2008

Material Divino II

Continuando minha listagem sobre o quê não me torna um cristão...


- A Devoção.

As muitas manifestações de amor ao Deus e à religião praticada pelos cristãos e mulçumanos na verdade é para mim um fervor vindo de doenças e medos, nunca uma gratidão real pela realidade do mundo e a oportunidade presente em cada ser.

Não querendo calcular o amor dos mais simples, que devotam com mais neutralidade e silêncio, mas indo logo para os que causam real furor entre os racionais, eu olho assustado e ofendido para um religioso com sua expressão de submissão à biblioteca de suposições que lhe rege. Na verdade quanto mais lhe habilitam os nervos e as artérias cheias de sangue, esses senhores e senhoras, garotos e garotas, são na verdade grandes uma exposição clara do que acontece quando a leviandade ganha corpos cheios de hormônio e violência.

E eles falam na maior hipocrisia que isso é manifestação do espírito-santo, uma entidade que aparece sempre quando algo absurdo fica à mostra, assustando os seres racionais, os mais tranquilos e mansos. E esses religiosos cheios de violência afirmativa ganham destaque entre os seus pois vestem com orgulho os trajes de guerra que os demais temem usar.

Outro dia num programa de televisão vi um pastor super odiado por seus inimigos( eu me incluo entre eles por me categorizar entre seus oponentes ) e super amado pelos seus irmãos de guerra, ele chamava de "sem-vergonha" os seres humanos que dispunham de uma outra postura quanto à sociedade, não importava se esses mesmos seres eram honestos ou úteis aos demais indíviduos, ali, na boca daquele seguidor de Cristo, estava todo escárnio, malidicência e infernalidades próprias de um juiz adiantado, fazendos as vezes de um deus que nascem entre os homens e pronto para lhe dispor punições autoproclamadas justas.

Eu sinceramente senti meu coração imensamente afetado por aquela figura hedionda panfletando seu ódio e fazendo gárgulas nascerem nos sorrisos de seus irmãos acordantes. Eu vi naquilo ali mais um motivo para não ser cristão, e um orgulho até.

Tenho uma parente que tem o renitente prazer de sentar-se com outros dos meus para fazer o juízo das pessoas, ela segue para isso aos simbolismos e velhas leituras da bíblia, eu fico com o coração mais um vez machucado, eu ouço aquilo distante, passo sem dar muita atenção, mas impossível! Sinto o enxofre sair de suas vidas e perfumar de diabo a casa, eu até tolero, pois sou civilizado ainda, mas a grande verdade é que dentro de mim Cristo morre tantas outras vezes, tudo por conta dessa gente habilidosa em fazer fissuras nos minutos comunicando o inferno com a terra.


- Propriedade sobre a metafísica.

Um ponto também que me irrita profundamente é a simbologia praticada como forma de entender a metafísica geral.

Não que eu ache outra forma melhor para representá-la, de fato, ou temos por conta da história do pensamento humano ou mesmo pela poesia facilitadora, a simbologia é uma excelente linguagem para expor os sentidos do universo, mas é um erro intelectual se isolar na beleza, no hermetismo, no esoterismo de textos da tradição milenar para fazer maior valor sobre a lógica límpida do pensamento constantemente renovado!

Vi senhores filósofos totalmente embebidos de ódio, de medo, de tradicionalismos, defenderem suas criatividades sobre a metafísica utilizando com vigor as palavras da bíblia, e nisso, davam ao poder delas doses e mais doses do chumbo perigoso dos anos. Muitos ainda acham que só porque um livro tem capa de couro e é um clássico das expressões humanas, basta por si só ser a fonte indiscutível da verdade.



É claro que ao mesmo tempo que eu não suporte a idéia de ser cristão, existem pessoas as quais são que eu gosto, infelizmente depois de eu expor essas idéias todas a respeito de sua classe elas não deveriam ou mesmo farão uma melhor imagem de mim, eu já não era bem visto por elas, agora que não tenho motivo mesmo para ser respeitado, e nem estou esperando por tal, já estive muito comprometido em compreender os valores deles, e eles são apenas parte de uma sociedade, a grande maioria inevitavelmente pensa como eu.

Eu queria muito que o cristão tivesse civilidade ao invés de mansidão, há uma grande mentira no gesto diário do cristão, eles se falam mansos quando um homem mal pratica crueldades com eles, e esse homem mal não pode ser vencido por suas forças mundanas, aí eles falam que são mansos, porém, nos seus púlpitos, eles chamam à luta contra classes diferentes de suas ideologias, principalmente no que tange a questão de como, quando e porque aproveitar a vida e seus entornos. Parece que eles levantam bandeira contra coisas absurdas, porém a verdade é que lutam contra algo bem simples, e que está no corpo de todos os seres, são verdadeiros observadores de pequenas falhas, e quando em seus corações aparecem o calor do ódio, o cansaço dos dias, qualquer tipo de humor doentio, vão logo explicando ali na falha do outro os males do mundo.

A grande verdade é essa, são todos eles seres humanos, mas bastou lhes acontecer algo pessoal para diminuirem suas tolerâncias aos arredores, vão logo insultando, invalidando ou mesmo discriminando as cercanias, dizem ser os sofrimentos obra dos pequenos mazelos de outros, nunca deles próprios, mas até quando afirmam serem os responsáveis por um erro, dizem que foi coisa da carne, mas nunca de seus aprimorados espíritos.

Os cristãos de biologia mais fraca, pessoas mais mansas, pessoas mais frágeis, esses gostam de se subtrairem de guerras, ficam sileciosos, são até dialogáveis, mas dá para sentir que não admitem a religião que professam, ou então aguardam por uma oportunidade de fazer justiça conforme à lei nascida das cicatrizes que carregam.

Eu por civilidade, honestidade e princípio respeito cada um deles, e tento até ser amistoso em meio à tanta violência psicológica que praticam - obra essa contra mim - e me correspondo alegremente ou aberto a cada um deles que faz o mesmo, porém não adianta,se sentarem juntos a me avaliar sei bem que só serei respeitado se a circunstância me proteger, se eu lhes valer de algo, pois nunca a matriz da ideologia deles o fará, se depender da bíblia ou de Cristo, eu serei condenado desde o primeiro momento de minha liberdade como ser humano.

Sendo assim, enterro de vez meu querer por ser um deles, e espero que caia sobre a própria tristeza e mentiras que provocam todo o reinado de dor e escuridão que são suas palavras nefastas.

2 Comentários:

Blogger Sérgio Roberto Sandes disse...

Coração agora há pouco fez batuque no meu peito. Fiquei tão surpreso e feliz em um só tempo. Deixa eu vê se encontro uma matáfora para traduzir o que senti quando li seu post, no universo ao meu redor, agora de noite...
Acho que essa é pertinente: Suas palavras são bocas beijando o vazio.E completo: Depois desse beijo, qualquer vazio, me basta!
Vou devorar o "Material Divino II", porque pelo que passei a vista, promete!Daí comento com mais propriedade depois...

Quero só deixar registrado aqui a sensibilidade sua para passar para o papel algo tão significativo assim:

"e eu confio minhas últimas pombas da arca a esse paraíso de futuros, de alguma forma não conseguiremos mais ser felizes com muito dinheiro, vamos preferir ter tempo! E justamente, nessa época de tudo querer para ter, seremos salvos pelo vazio no extrato de tudo que atualmente valorizamos ou no espaço aberto de tudo válido a experimentar" (Lopes, Castro, Gustavo, Todos, em Um.)

Indo dormir agora, para guardar meus sonhos no travesseiro...
Beijo, abraço arrochado =]
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...exageradamente feliz por te ter aqui, dentro, em mim, só para mim...

2:50 AM  
Blogger Sérgio Roberto Sandes disse...

Eu enxergo a religião sob três pontos: ilusão-confortável-de respostas.O que me pergunto é,e obviamente nesse caso, não irão me dar respostas plausíveis,o porquê de tamanha intolerância entrelaçada a reverência às coisas sagradas.A incoerência aqui se revela na crença fervorosa dos fiéis e "dos que se dizem fiéis", de que é preciso abandonar "o mundo" e abraçar a religião.
A devoção doentia e cega, soa como uma espécie de aceite e cale-se porque o questionar dói e não nos trazem respostas apaziguadoras.Mas aí entra outra contradição: se o questionar dói,por outro lado, o aceitar anula, empobrece, e gera a intolerância, fechando o ciclo das perguntas sem respostas.

Há dor, eu corro para a religião, há medo, eu corro para a religião, há doenças eu corro para a religião. E aí seu texto estampa o mais puro e triste dos fatos: "As muitas manifestações de amor ao Deus e à religião praticada pelos cristãos e mulçumanos na verdade é para mim um fervor vindo de doenças e medos, nunca uma gratidão real pela realidade do mundo e a oportunidade presente em cada ser."

Mas e o propósito maior? Separando a razão da fé, fica um vazio rico de dúvidas,o qual nunca vai ser preenchido pelo simples motivo de que nem Deus, nem Alá ,ou qualquer outro nome referente a esse mistério maior, emitem respostas. São todos mudos. A Bíblia não caiu pronta dos céus.Não.Ela foi fruto das mãos e das crenças dos homens. Diante desse fato, guardo minha incredulidade com uma convicção maior ainda, de que tendo as mãos sujas do homem nesse objeto sagrado, já frustra minha pouca fé nesse dogma transparente e inatingível.

O cristão necessita de civilidade, honestidade e verdades.Sendo assim,que os anjos os salvem...

Adorei a profundidade do texto num tema tão espinhoso. Excelente!

Beijo,beijo,beijo...
Com carinho e sempre tocado pelos seus escritos...

3:10 AM  

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