sábado, maio 24, 2008

Dois olhos em mim.

Se eu puder separar minha auto-imagem das figuras que reúno no quebra-cabeça vindo da adjetivação que recebo faço um esforço de rebeldia.

Em meu coração chegam muitas ondas de ódio, eu consigo sentir as pessoas e suas trajetórias de pensamento, seus olhares correm por meus detalhes físicos, suas peles de ouvido por minhas tremulações na voz ou pela ousadia entre os verbos conjugados, eu falo e isso me expõe, põe meu espírito à chance de ser tocado pela consideração do outro, e isso tem sido uma aventura especial.

É grande o prazer na revelação, a maturidade tem sido um tempo de triagens, principalmente de pessoas e de seus valores para mim.

Da mesma maneira terrível que sou julgado e considerado pelos demais como isso ou aquilo, faço os mesmos movimentos quanto a todos ao meu redor, num sentido de tempo passado, presente e futuro.

O juízo do adjetivo é terrível, a pena de carregá-lo é realmente uma cadeia, tanto para quem o projeta no outro, como para o outro que o recebe. Porém é fácil numa sociedade "livre" como a de hoje poder usá-lo como se quer. E também em outras eras xingar ou elogiar alguém não havia lá instituição que protegesse a vítima, ou educação que cala-se de antemão o falante.

Eu carrego os adjetivos com muita dor, os que criei para mim também são ruins, faço uma análise sensível e honesta, e vejo o quanto sou coordenado por essa situação constrangedora, as minhas qualidades e defeitos vivem gerindo minhas possibilidades, e por mais que eu finja que é possível esquecê-las, não passará de teoria.

Tem pessoas governadas apenas pelos seus dois olhos, e eu as invejo, é verdade que boa parte delas não passam de personagens de si mesmas, faladas para nos dar motivação diante de um problema, mas vou também fingir que elas existem livres de serem tocadas pelos outros, e vou fingir também que somente dois olhos em mim são suficientes para minha felicidade.

Quando eu chegar bem perto do quebra-cabeça pronto, onde se espalham desenhados todos os sonhos perdidos e realizados eu vou ter idéia realmente do que fui, não do sou, e nem do quanto poderei ser, pois nem nisso sou dono de mim. Digo com tristeza e confiança: Somos cegos até que nossos olhos nasçam na palavra que escutamos sobre nós.

1 Comentários:

Blogger Sérgio Roberto Sandes disse...

Existe no "olhar" do outro uma espécie de dedo acusador, determinante no processo de auto-conhecimento do "acusado", que o ajudará a perceber que o olhar-espelho que se revela em nossa fronte geralmente é vazio e permeado por fingimentos. Tenho nos olhos, uma espécie de verdade dilatada, porém raro é achá-la em pessoas rasas.

Existe uma linha tênue entre o "enxergar" e o "olhar" e nesse atual momento de valorização de lentes que nos proporcionam a falsa visão além do alcance, fico intrigado como o homem a cada dia alimenta mais e mais sua miopia inata.

Há tempos só encontro olhares opacos sobre mim...e num deserto de olhares vazios me pergunto se não é conveniente manter-se cego nessa escuridão.Meus olhos riscados de verdades, revela um sentido maior,no qual insisto acreditar.

Hoje, toda vez que fecho os olhos, é por saudade, pelo que sei que não vou mais enxergar.

E finalizo cantando a música do Tom e da Miucha:


Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais la ra ra ra...

Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor e só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Precisa se casar, precisa se casar...





Beijo nos olhos...

3:17 AM  

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