segunda-feira, maio 26, 2008

Quando tudo for além.

Eu preparo um juízo para todas as coisas vistas, eu olho e monto dentro de mim um pequeno apocalipse, até faço devaneios bíblicos e ganho o terror de ser severo, falo de soldados em montarias, de dragões devastadores e de mulheres em meio à cartas de aviso, eu olho e percebo que o mundo me percebe, fico com raiva, com medo, sem tempo.

O mais difícil de estar vivo é carregar a vida e sua grande petulância em ser diferente pelos dias à fora, ora! Deveria tudo ser como o previsível proclama, mas não,a vida tem um direito acima do meu, acima do teu e até mesmo - provavelmente - acima do dela.

É uma sanha esquisita essa entrega à loucura, permite-se as mais diversas possibilidades de dançar consigo mesma, nem sabemos se ao final de tudo haverá um descanso dos passos ou assassinato por tiro, em meio a música dramática dos pios e rojões a vida tem uma rosa nos lábios, e espinhos, muitos espinhos.

Estou cansado de deixar tudo ser como é, ou mesmo do como quer. Tudo bem, eu sei, a vida é obra de si mesma, como um sol que só é sol enquanto arder e explodir, eu penso nisso todo tempo, no quanto meu direito não termina no dela, o dela vence as alturas dos vales e avança em minha direção com sua água vulcânica, ou simplesmente faz-se de poesia, e na sedução inesperada de uma brisa aquecida e perfumada, um hálito jovial em sensualidades, chega aqui toda carente. Não gosto disso! Quero os roteiros, os scripts, as velhas tradições! Quero os passos desenhados no chão, quero a dança bem descrita, um caminho a fazer-se diante de meus olhos, não quero mais ser visto, quero fazer parte de um cenário e sumir nele. Não quero deixar mais a vida ser o quê ela é, isso me enterra na boca de um botão de flores.



Mal vira o meio-dia e conheço a razão peitoral dos religiosos e seus líderes demoníacos, essas minhas palavras contra a vida e seu direito de dançar drogada pela diversidade são obras de meu cansaço, medo e juízo. Falta-me tempo! Eu sou o pequeno apocalipse que crio ao ver tudo,e ao ser visto, eu não quero mais ser visto, mas estamos diante de um sol que só é sol enquanto arder e explodir, não estamos prontos e ainda assim a escrever o valor de tudo e de tudo mais o quê vier, é esse o direito dela, vir e trazer as eras e terras para o além de mim. Então o mar se abre ao redor fazendo meu entendimento - antes continente - ser transformar em uma ilha desafiando o oceano fervido dos dias, escuto do meu pânico que mais sábio é ouvir os textos antigos, anteriores até mesmo à bíblia, ouvir e proclamar o óbvio, com ou sem poesia, dizer sobre deixar o sol ser sol, e a vida se embriagar na própria brisa.

3 Comentários:

Blogger Sérgio Roberto Sandes disse...

Tenho pensado tanto sobre a vida,Lopes querido.
Constantemente, paro e me ponho a pensar e às vezes nem paro, os pensamentos me tomam sem escapatória.Há um abismo tão grande entre o que eu penso e o que eu acredito. Entre o que eu vivo e o que eu gostaria de viver.Entre meu medo e a urgência de mudanças. Esses abismos têm me machucado bastante. Seria tão bom se eu não me impusesse um esperar angustiado. Cartola estava certo quando disse que "a vida é um moinho e que ela vai triturar nossos sonhos tão mesquinhos e reduzir nossas ilusões a pó."

Estou absurdamente cansado da mesmice, das pessoas chatas, do individualismo, do capitalismo, dos meus vizinhos...e me canso cada vez mais.

Sinto-me fora do rítmo, da dança, sinto-me deslocado, incomodado...estou triste.Uma tristeza seca,sabe?!

Quando tudo for além,me soa como uma brisa em nossos rostos...quem ousa ir além...já desistem ao esbarrar na barreira pele.

Bom, vou dormir...às vezes,o fechar os olhos é o melhor encontro consigo mesmo...





Bebendo desse azul cubano,minha força nunca seca...
Adoro...



Abraço além do toque

1:51 AM  
Blogger ilovblak disse...

"O mais difícil de estar vivo é carregar a vida e sua grande petulância em ser diferente pelos dias à fora".

é por isso que a gente apanha tanto
é por isso que a gente ganha tanto nessa vida.
viver é extraordinário.
quando mais pensamos melhor.
abraços
artur massai

3:46 PM  
Blogger Cecília Braga disse...

Meu Gu,
Te leio daqui, com os olhos fechados, mãos percorrendo os veios das palavras. E é tão verde, verde. Folha que se faz esperança de primavera.
beijo na alma

4:55 PM  

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